Atlântica ‘Atlântica’

“Tudo começou com uma mensagem inesperada. Em setembro de 2024, recebi um contato do saxofonista português José Lencastre, dizendo que estaria vindo ao Brasil e queria tocar em São Paulo. A gente ainda não se conhecia pessoalmente, mas ele havia sido indicado por amigos que fiz nas minhas aventuras musicais em Portugal. Então pensei logo no guitarrista Luiz Galvão para nos acompanhar, parceiro de longa data, que, sem hesitar, topou a ideia.

Para quem ainda não conhece, José Lencastre é daqueles saxofonistas que fazem o som viajar por dimensões inimagináveis. Com um pé no jazz e outro na improvisação livre, ele já tocou com grandes nomes da cena experimental europeia. A cada frase musical, ele deixa uma marca, às vezes suave, às vezes explosiva, mas sempre cheia de alma.

Já Luiz Galvão, além de ser um exímio improvisador, é integrante de diversos conjuntos, dentre eles Nomade Orquestra e do Otis Trio, dois projetos que misturam jazz, groove e experimentalismo de um jeito único. Seu jeito de tocar guitarra é hipnótico, criando paisagens sonoras que prendem a atenção e fazem qualquer um embarcar na viagem musical.

E eu, Wagner Ramos, sou baterista, percussionista e manipulador de eletrônicos. Minha trajetória é marcada pela pesquisa das vertentes da música negra — do rap ao jazz, do soul ao samba — e pela dedicação à música experimental. Sou cofundador do duo Rádio Diáspora, ao lado do trompetista Romulo Alexis, com quem venho explorando há uma década os caminhos do free jazz e da improvisação livre, sempre com referências da diáspora africana como ponto de partida e de chegada. Sigo envolvido em colaborações diversas que cruzam som, política e criação em tempo real.

Com o apoio do selo Brava, armamos um show no Mocergo, em Santo André. E no dia seguinte, reunidos no estúdio Ori, lá em casa, sob os cuidados do mago do som Igor Souza, gravamos o primeiro álbum do trio Atlântica, que carrega o mesmo nome. O que era pra ser apenas um encontro virou um laço forte, uma amizade que nasceu da música e um som visceral que pulsa com energia.

De profunda relevância também foram os samples que utilizei do poeta Bruno Pastore, com ‘Agosto 24’, no tema 5 – Talho, e de Cadós Sanchez, instrumentista e luthier experimental, tocando contrabaixo no tema 7 – Atlântica.

O resultado é um disco potente, uma experiência intensa e um convite pra vocês embarcarem nessa jornada com a gente. Ouçam, sintam, viajem!”

Wagner Ramos